Wednesday 10 November 2010

Crônicas Life Support - Consultório com "Jet Leg"

Consultório com "Jet Leg"

O Primeiro consultório da DOC Life Support era, talvez, o único consultório na face da Terra que funcionava com "Jet Leg" e "Tábua das Marés". Entenda porque...

Montamos nosso primeiro consultório em Paraty-RJ. Trabalhávamos de dia na Prefeitura e à noite no consultório. Abríamos às 20:00 horas e às vezes fechávamos às 03:00 horas da manhã (por isso "Jet Leg"). Nossos pacientes eram em sua grande maioria estrangeiros recomendados pelas pousadas vizinhas como a da atriz Maria De La Costa ou mesmo pela própria atriz "Maria de La Costa", presença constante no consultório (como visita e amiga). Os músicos também eram sempre presentes antes ou depois de seus shows.

O consultório da DOC Life Support tinha uma característica muito interessante na época das chuvas. Para os pacientes saberem se podiam ir ou não ao consultório eles tinham antes que consultar a "Tábua das Marés". Na "Maré Alta" a rua virava literalmente um rio, impossibilitando o acesso à entrada do consultório (a não ser que se usasse um barco!).

Fato muito interessante era que a outra parte dos clientes era composta por pessoas idosas. Geralmente para esses pacientes eu reservava um tempo longo para uma primeira consulta que preenchesse toda a sua história patológica pegressa. Uma cliente nossa de 93 anos (em 2004) veio à consulta às 23:00 horas de uma segunda feira. Chegou meio desanimada dado à dificuldade de saber a causa de seus males. Após muita conversa e até mesmo um bate-papo informal sobre o cotidiano, disse-me que já estava sentindo-se muito bem antes mesmo de tomar os medicamentos. Terminamos então a consulta, até mesmo por insistência de seu neto que impacientemente batia à porta. A velhinha saiu andando, toda saltitante, toda animada dizendo: "-Agora já sei muito bem o que eu tenho e já até melhorei". Despedi-me cordialmente e voltei ao consultório. Olhei no relógio-vigia-de-navio... 02:00 horas da madrugada!!!

@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@ The big "BEN"... Paraty-RJ, nessa época, ainda era uma cidade na qual circulavam ou mesmo moravam pessoas muito interessantes. Entre essas o caro amigo e paciente “Ben”, que era filho de ingleses mas nascido na África do Sul. Assim como eu, gostava de rock e cerveja com moderação, o que fazia conversarmos por longas horas, inclusive aproveitando para praticar um pouco de inglês e português. Nosso papo sempre girava em torno de rock e lugares especiais no mundo. Como ele tinha dupla nacionalidade, eu sempre lhe perguntava coisas sobre a África e a Inglaterra. Mas o fato interessante dessas conversas era sempre o final. Falávamos sobre a Table Mountain , de onde se avista o Oceano Atlântico à direita e o Índico à esquerda; sobre as super ondas do sul da África, ponto dos maiores surfistas do planeta; sobre a Inglaterra e seus tradicionais “Fog”, “Big Ben” e lendas seculares, dentre outras coisas. Fazíamos isso sempre ao som de um bom rock’n roll, uma cerveja bem gelada (no verão), um scotch ou Jack Daniel’s (no inverno) sempre acompanhados pelo seu inseparável amigo irlandês, John. O mais interessante e o motivo pelo qual resolvi escrever essa pequena crônica eram os finais comuns. Tônicas dessas conversas, me surpreendia como o Ben parecia conhecer de forma íntima, estrelas do rock e do cinema, pessoas públicas da política e também nobres ingleses.

Uma vez conversando sobre a África toquei no nome do Mandela dizendo o quanto admirava sua postura nacionalista e libertária. Mal terminava de falar e o Bem comentava... “- O Mandela é um amigão meu, uma pessoa das mais incríveis que conheci...”. Noutra vez, após um ensaio no “Irish Pub”, um local que sempre tinha classic rock ao vivo e que programávamos fazer um show com os antigos rocks do Roberto e Erasmo, caminhávamos em direção ao centro da cidade falando sobre os mesmos assuntos. Comentei sobre um amigo de Liverpool (Leslie Walsh) que sempre desconversava toda vez que lhe perguntava algo sobre os Beatles (tínhamos acabado de tocar algumas músicas deles) quando ele falou que havia me escutado tocando guitarra e que eu estava tocando igual ao Jimmi Hendrix. Até gostei do exagero e lhe perguntei se ele gostava da música do Hendrix... “-O Jimmi... poxa era amigão meu. Estava com ele em Londres na noite que ele tocou pela última vez. Estávamos eu, o Hendrix, o Eric Burdon do The Animals e a namorada dele sentados na mesma mesa. Os dois estavam discutindo sobre o que iriam tocar e bebendo muito uísque, mas muito mesmo. O Hendrix subiu no palco completamente bêbado, tocando quase que apagado em cima da guitarra e aí eu disse ao Pete: Vou-me embora que vocês já passaram da medida e eu já estou legal. http://www.youtube.com/watch?v=fBgyXXnbfBc No outro dia eu acordo para ir à padaria comprar pão e em frente ao jornaleiro a manchete do jornal me dá um susto... JIMMI HENDRIX DIED! Mas como? Ontem estávamos tomando uísque juntos...” Um dia comentávamos sobre a Família Real quando ele disse... “- O Charles, Sua Altesa Real..." Só faltava mesmo era passar HRK Henry e dizer... "Ô Ben, quanto tempo não o vejo"... Dá até pra fazer um personagem cômico desse amigo. @@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@ Certa vez, fechei o consultório, que fica a poucos metros do Café Paraty e para lá fui... Era dia do Paulo Meyer e lotava, então tinha que chegar mais cedo. Um super show que foi até as quatro da manhã. Pedi um autógrafo dele no cd e perguntei se não queria tocar "Summertime" comigo ao piano... Acho que foi o Summertime (Porgy and Bess) mais longo de toda a sua vida. Pena que não filmamos mas o Paulo continua aí, mandando ver. Esse link do Youtube mostra um pouco do super-roquenrou que ele e sua banda fazem: http://www.youtube.com/watch?v=-FmvwYcXXX4

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